B4F
boletim informativoEDITORIAL
Terminados os Campeonatos da Europa realizados na Madeira há vários destaques e alguns lamentos no balanço do evento.
Portugal voltou a organizar mais uma importante prova internacional. O mérito do enorme sucesso alcançado vai para todos os que, sob a égide da FPB, para ele contribuiram: árbitros, operadores de vugraph, duplicadores, caddies e para a excelência de toda a máquina logística.
No campo desportivo o grande destaque vai para o desempenho da nossa equipa Open. O 10º lugar na competição equivale, em minha opinião, à melhor prestação de sempre de uma equipa nacional em Campeonatos da Europa.
Se bem que ao longo da história dos campeonatos se encontrem resultados semelhantes, a comparação deve ter em conta o contexto actual da competição, com equipas muito profissionalizadas e uma enorme evolução técnica, principalmente ao nível de sistemas de marcação e de leilão competitivo.
Uma palavra também para os 13º lugares das selecções Mista e Feminina, no primeiro caso um pouco aquém das expectativas iniciais mas, ainda assim, desempenhos positivos.
Já a equipa sénior não foi nada feliz, com um penúltimo lugar que não estava nas previsões mais pessimistas.
Independentemente dos resultados melhores ou piores uma palavra de apreço a todos os jogadores que representaram Portugal.
Nem tudo foi, no entanto, positivo. Numa atitude que não se pode aceitar, na cerimónia de abertura, Portugal fez-se representar por 4 senhoras da equipa feminina e respectivo capitão e alguns elementos do staff. Foi com um misto de espanto e de indignação que assisti, envergonhado, à chamada da delegação portuguesa em profundo contraste com a grande maioria das restantes delegações estrangeiras. O que devia ser uma manifestação de orgulho nacional por receber uma prova desta importância transformou-se num exercício de mau gosto.
Para representar o País não pode ser suficiente adquirir de uma ou outra forma o direito desportivo. É necessário um comportamento digno. Transportar para a cerimónia de abertura dos Campeonatos da Europa organizados por Portugal as guerras e guerrinhas internas é de todo inqualificável. Como diz o Povo “a roupa suja lava-se em casa”.
Roupa suja a que vamos assistindo nas redes sociais, com uns em bicos de pés a reclamarem louvores e outros, sem nada curricular para nos espantar, a vociferar sem conhecimento de causa ou mesmo através de factos distorcidos e de histórias mal contadas.
Numa altura em que o bridge nacional atravessa uma crise profunda, com os licenciamentos a diminuirem, clubes a desaparecerem e índices de frequência nas competições mais baixos de há muitos anos a esta parte, o caminho escolhido por alguns é o de terra queimada ou quanto pior melhor. A estratégia pode vir a dar certa, os reais objectivos alcançados, mas no final correm o risco de herdar um monte de nada.
Luis Oliveira
NÓS POR CÁ...
Por cá nem bem nem mal antes pelo contrário. O bridge nacional continua na sua lenta agonia sem que se vislumbre um pequeno raio de luz que nos faça olhar para o futuro próximo com alguma esperança.
Para quem centrou todo o debate pós-covid entre bridge online e bridge presencial, com posições extremadas dos dois lados e prognósticos sem qualquer tipo de fundamento, sem consulta aos praticantes e clubes porque os deuses decidem e os mortais obedecem, os meus parabéns. Foi uma estratégia “inteligente” e aí estão os resultados das posições irreversíveis e das certezas absolutas.
A última versão aconteceu com o Campeonato Nacional de Equipas de 2ª categorias onde marcaram presença 4 equipas(?). Talvez um dia alguém acorde e humildemente concorde que este não é o caminho. Não, a solução não passa pelo joga quem quer (seja presencial ou online). O caminho para uma qualquer solução tem de passar pelo diálogo. Um diálogo que tem de envolver dirigentes, clubes, praticantes, árbitros e formadores. Não precisamos de gente que sabe tudo, nunca se engana e raramente tem dúvidas. Precisamos de um dirigismo voltado para fora e não para dentro. Precisamos de todos e não de élites.
A caminho da Holanda está a equipa de U31 para disputar os Campeonatos da Europa. A todos desejamos as maiores felicidades. Sobre as vicissitudes que envolveram esta representação nacional é um tema para mais tarde.
MOMENTOS
Está a jogar 3ST em Oeste, num leilão sem intervenções adversárias e recebe a saída ao ♠5. Ganha a vaza com a ♠D do morto. Com apenas 7 vazas garantidas qual o seu plano de jogo?
♠ V104 ♠ RD82
♥ D96 ♥ AV75
♦ D6 ♦ 42
♣ ARD105 ♣ V75
3 vazas em espadas garantiriam o contrato, o ♥R bem colocado ajuda, mas não resolve totalmente o problema e pior, qualquer destas opções vai deixar a iniciativa ao adversário, mais tarde ou mais cedo.
No vugraph tivémos oportunidade de constatar que o bridge é muito mais que um jogo de técnica e daí o seu grande fascínio. No encontro Irlanda – França, o declarante irlandês decidiu-se por um toque de mágica e, na segunda vaza, jogou oiro do morto para a ♦D da mão (!!!). Compreensivelmente Norte continuou em espadas. Ajudou, mas ainda falta uma vaza. Agora o declarante fez a passagem a copas e a vaza foi ganha por Sul.
Grande pensada, enorme expectativa na sala e Sul, finalmente, atacou oiros. Norte ganhou a vaza e jogou…copas!!! Antes que comecem a pensar mal do senhor convirá dizer que se trata de um campeão da Europa em 2016. Existirão muitas razões para a defesa descobrir o fatal ataque a oiros, o que seguramente teria acontecido com um carteio “normal” do declarante. Mas mais que crucificar o defensor há que tirar o chapéu à estratégia do declarante. I love this game!
♠ 6 5 4 3 2 ♥ 5 2 ♦ 6 5 4 ♣ V 5 3 |
||
♠ D ♥ 10 2 ♦ D V 9 8 3 2 ♣ A 7 5 2 |
♠ V ♥ A R D V 9 8 6 4 ♦ 10 ♣ D 9 8 |
|
♠ A R 10 9 8 7 ♥ 5 ♦ A R 7 ♣ R 10 6 |
No encontro entre dois potenciais candidatos à vitória no Open, Noruega e Holanda mediram forças e quem assistiu foi brindado com algumas mãos espectaculares. Num leilão muito competitivo, em ambas as salas Este acabou a jogar o contrato de 5♥ dobradas. Também igual foi a saída ao ♠A e a continuação em trunfo que o declarante ganhou e, de imediato jogou um oiro em direcção ao morto, que Sul ganhou com uma das figuras. E foi exactamente neste momento do jogo que 13 IMP’s voaram para uma das equipas.
Como derrotar o contrato?
Numa das mesas Sul decidiu-se pelo corte e balda. O declarante cortou no morto baldando um pau da mão, cortou um oiro e bateu os trunfos squeezando Sul nos menores. Na outra sala a defesa derrotou o contrato. O que fez Sul de diferente nesta sala?
Simplesmente jogou o ♣R destruindo o squeeze. Não mais o declarante se conseguiu livrar da sua perdente a paus. Um cabide e 13 IMP’s para a Holanda que se viria a consagrar campeã da Europa.
Mais magia logo a seguir no mesmo encontro
♠ V 10 5 3 ♥ 8 ♦ A R D 8 5 3 ♣ 10 3 |
||
♠ 6 4 ♥ R 7 6 3 2 ♦ 7 4 ♣ A V 7 5 |
♠ 9 8 7 2 ♥ V 10 9 5 ♦ 10 ♣ D 9 8 |
|
♠ A R D ♥ A D 4 ♦ V 10 6 ♣ R 8 6 2 |
Nas duas salas o contrato voltou a ser igual: 6ST. Com 11 vazas certas o declarante precisa de uma de 2 cartas bem colocadas: o ♣A ou o ♥R. Boas hipóteses porém não acumuláveis. Numa sala Brogeland recebeu a saída neutra a oiros e, de imediato, jogou um pau para o R. A manobra seria condenada ao fracasso com ♣AD em Oeste. Mas, estivessem as figuras divididas com o ♣A mal colocado iria Oeste continuar em paus? Pois não só não continuou como recuou a vaza e o declarante fez 13 vazas. Tudo levava a crer que, com a posição das cartas, a Noruega iria averbar um grande swing. Mas o azar (está sempre tudo mal) entra muito poucas vezes nas contas de jogadores deste nível. Vamos ver o que se passou na outra sala
A saída foi ao ♠4. O declarante ganhou e tirou as 10 primeiras vazas, ficando no morto com o ♣R e ♥AD. Oeste (Helgemo) fica sem defesa no último oiro. Ou seca o ♣A, é posto em mão e vira-se em copas, ou seca o ♥R para ficar com 2 cartas de paus. Decidiu-se por secar o ♣A e lá aconteceu o previsto. Talvez tivesse sido melhor secar o ♥R, mas ao que tudo indica o declarante tinha esta posição já na agenda.
Desta feita imaginação e técnica empataram. Ou como o bridge nos pode proporcionar momentos de pura adrenalina.
0 Comments