As passagens - continuação
Vamos
avançar um pouco mais no estudo desta técnica de
carteio muito importante, já abordada no capítulo
anterior.
Relativamente aos casos já estudados, resta acrescentar
que as passagens se dividem em duas categorias: passagem directa, em que o adversário
não tem possibilidade de ficar em mão, desde que
a passagem seja bem sucedida e passagem indirecta, sempre que o adversário
pode ganhar uma vaza durante o processo de apuramento, mesmo
quando a carta em falta esteja bem localizada para os interesses
do declarante. Na primeira situação, um grupo de
duas cartas enquadram a carta em poder do adversário,
por exemplo, «AD». A este grupo de cartas dá-se
o nome de fourchette (em francês,
no texto). No caso da passagem indirecta, não existe
fourchette.
I |
II |
III |
IV |
ªD82 |
ªD82 |
ªD8 |
ªD8 |
¨ |
¨ |
¨ |
¨ |
ªA75 |
ªA7 |
ªA75 |
ªA7 |
Em qualquer das situações anteriores, para realizar
uma vaza com a ªD é necessário
jogar uma pequena carta em direcção à ªD, esperando pela colocação
do ªR à nossa
esquerda. Os casos em análise não são, contudo,
todos iguais. No caso I nenhum problema, para além de
se esperar pela boa colocação do Rei. As duas situações
seguintes são um pouco mais embaraçosas. Com apenas
2 cartas numa das mãos, tal facto pode conduzir ao bloqueio
do naipe, sendo necessário comunicar noutro naipe lateral.
Finalmente, no último caso, não há qualquer
hipótese da ªD fazer vaza a menos,
claro, que se verifique algum erro defensivo. Com apenas 2 cartas
em cada mão, mesmo com o ªR à esquerda, bastará à
defesa jogar ªR sobre a pequena
carta de Sul. Na jogada seguinte, ªD e ªA cairão na
mesma vaza.
As passagens - a melhor hipótese de
ganhar
Sendo
a passagem uma técnica absolutamente fundamental como
ferramenta de carteio, convirá utilizá-la com bom
senso. Situações há em que tentar uma passagem
diminui as hipóteses de realizar o máximo de vazas
possíveis. Vamos começar por apresentar um exemplo
caricato para melhor se perceber o sentido da nossa observação:
ªARV1098 |
Apesar de faltar a
Dama do naipe e de existir a fourchette em Norte para uma passagem
directa, o facto do campo ter 11 cartas em linha torna a manobra
absurda, uma vez que a ªD irá forçosamente aparecer quando
se jogar ªA/R |
¨ |
ª76543 |
ªARV109 |
|
ªARV109 |
No exemplo mais à
esquerda é de considerar a hipótese da ªD poder cair debaixo de ªA/R, uma vez que a defesa apenas
tem 4 cartas em linha.
Esta hipótese é muito mais remota no exemplo da
direita, em que a defesa tem 5 cartas. O aparecimento da ªD seca ou à segunda
é muito pouco provável. |
¨ |
¨ |
ª7654 |
ª765 |
Concentremo-nos
um pouco mais no segundo caso:
Sendo pouco provável que a ªD caia nas 2 primeiras vazas, a melhor solução
aponta para uma passagem directa. Joga uma pequena espada em
direcção à mão de Norte e, caso apareça
pequena em Oeste, joga o ª9. Se ganhar garantirá
5 cartas no naipe, se perder realizará apenas 4 vazas.
As hipóteses de sucesso são de 50%. Os amantes
do cálculo de probabilidades poderão facilmente
verificar que estes 50% são bem superiores à linha
de jogo alternativa, que é bater ªA/R sem qualquer passagem. Podemos ainda melhorar
ligeiramente as nossas hipóteses de sucesso, ou seja,
jogar a um pouco mais de 50%, batendo uma das figuras grandes
para depois vir à mão de Sul e efectuar a passagem.
Com esta manobra acumulamos aos 50% da passagem uns pontinhos
percentuais para o caso da ªD seca, à
direita. Não será grande coisa, mas...
Deixando as demonstrações matemáticas para
os especialistas, podemos estabelecer os seguintes princípios:
|
Passagem
ao Rei
» Deve fazer-se a passagem ao Rei com um máximo
de 10 cartas no campo. A partir de 11 cartas, bater o «A»
à cabeça
Passagem
à Dama
» Deve fazer-se a passagem à Dama com um máximo
de 8 cartas no campo. A partir de 9 cartas, bater «A»
e «R» à cabeça
Passagem
ao Valete
» Deve fazer-se a passagem ao Valete com um máximo
de 6 cartas no campo. A partir de 7 cartas, bater «A»,
«R» e «D» à cabeça |
Recorde-se
que se tratam de princípios e não de garantias.
Na ausência de elementos exteriores que condicionem a forma
de jogar, estas são as melhores hipóteses para
se ganhar. Voltemos um pouco atrás
ªARV109 |
|
ªARV1095 |
No exemplo mais à
esquerda afirmámos qe se poderia jogar a uma percentagem
superior a 50%, batendo primeiro uma figura de Norte para só
depois realizar a passagem.
No exemplo à direita, a situação parece
igual, já que o campo tem as mesmas 8 cartas em linha.
No entanto, se bater uma figura antes da passagem, apenas poderá
realizar a passagem 1 vez, perdendo a hipótese de apanhar
a ªD na passagem, mas à
4ª...! Ou seja, na tentativa de apanhar uma «D»
seca à direita, perdeu a hipótese, bem mais provável,
por sinal, de apanhar a «D» à 4ª, à
esquerda. Mau negócio... |
¨ |
¨ |
ª765 |
ª76 |
Preservar as fourchettes
Outra
precaução a ter, diz respeito às "más"
distribuições. Com:
ªAD42 |
Falta o Valete e, de
acordo com os princípios atrás enunciados, a forma
correcta de jogar é bater o naipe "à cabeça".
No entanto, existe uma precaução a tomar, que pode
render os seus frutos. Mantendo a fourchette «R10»,
pode prevenir-se contra uma distribuição 4-1, à
sua direita. Comece então por jogar o ªA, seguido da ªD.
Se toda a gente assistir, como é de esperar,o problema
fica resolvido. Se Oeste baldar à segunda, resta-lhe fazer
a passagem ao ªV, jogando uma pequena espada
de Norte para o ª10. De referir ainda que, com
4 cartas à esquerda, incluindo o ªV,
o declarante terá de perder uma vaza no naipe. Isto porque
não existe fourchette em Norte! |
¨ |
ªR1063 |
ªRV842 |
Uma vez mais, apesar
de faltar a ªD, a existência de 10
cartas em linha aconselha a bater o naipe "à cabeça".
Mas a existência da fourhette em Norte deve levar o declarante
a começar por jogar a honra isolada - ªA. Se toda a gente assistir tudo segue normalmente.
Se Oeste baldar, a perda de 1 vaza é inevitável.
Mas se for Este a baldar, o declarante poderá evitar a
perda de uma vaza, fazendo a passagem à ªD. |
¨ |
ªA7653 |
|
Tendo em
mente os princípios enunciados anteriormente, o declarante
deverá tentar preservar o mais possível a fourchette,
jogando, em primeiro lugar a(s) honra(s) da mão oposta.
Desta forma estará a prevenir-se contra eventuais más
distribuições o naipe nos adversários. |
Aberturas em naipes pobres - primeiros desenvolvimentos
Ao longo
deste curso foram já estudadas algumas aberturas: 1ST;
2ST; 1©; 1ª; 2©; 2ª. No quadro abaixo,
vamos relembrar as suas principais características:
ABERTURAS |
|
FORÇA
(HL) |
DISTRIBUIÇÃO |
PRECISAS |
1ST |
15-17 |
Balançada |
2ST |
20-22 |
Balançada |
2© |
21-22 |
Unicolor
ou Balançada |
2ª |
21-22 |
Unicolor
ou Balançada |
AMBÍGUAS |
1© |
13-22 |
Indeterminada |
1ª |
13-22 |
Indeterminada |
A necessidade
de utilizar as aberturas em naipes pobres
Como
facilmente se verifica, existe um número considerável
de mãos que não estão contempladas no quadro
anterior. Para essas, a nossa solução até
agora tem sido «Eu abro». A grande maioria destes
casos será contemplada nas aberturas ainda disponíveis,
ao nível 1§ e 1¨. Tal como as aberturas
ambíguas em naipe rico, as aberturas em 1§ ou 1¨ prometem 12H a 22HL
mas terminam aqui as semelhanças, uma vez que o comprimento
mínimo dos naipes de abertura é bem diferente.
Assim:
1¨ - 12 a 22HL, sem
ricos de 5 cartas*, com 4 ou mais cartas de oiros
Excepção:
Com uma distribuição 4-4-3-2, 2 ricos de 4 cartas
e 2 cartas de paus e uma força fora dos limites das aberturas
de ST, abre-se em 1¨ com apenas 3 cartas no naipe.
1§ - 12 a 22HL, sem
ricos de 5 cartas*, sem oiros de 4 ou mais cartas, com 3 ou mais
cartas de paus
* Existem excepções a esta regra mas, tratando-se
de mãos muito especiais e raras deixaremos o seu estudo
para mais tarde.
Exemplo 1 |
|
Exemplo 2 |
|
Exemplo 3 |
|
Exemplo 4 |
|
Exemplo 5 |
|
Exemplo 6 |
ªD94
©A75
¨R1063
§A53 |
ªRD64
©A952
¨A3
§1083 |
ªR109
©A82
¨RD863
§AD |
ªAD5
©5
¨R973
§DV1032 |
ªRV75
©6
¨RD65
§RD63 |
ªR1087
©A543
¨R103
§R5 |
1¨ |
1§ |
1¨ |
1§ |
1¨ |
1¨ |
Nos exemplos 1 e 2 estamos em presença de mãos
balançadas mas com força insuficiente para abrir
em 1ST: 1¨ no exemplo 1 por
ter 4 cartas no naipe, 1§ no exemplo 2 por não ter ricos de 5
nem 4 cartas de oiros. O exemplo 3 mostra também uma mão
balançada, desta feita com força superior à
da abertura em 1ST e inferior à da abertura em 2ST.Com
5 cartas de oiros a solução é abrir em 1¨. No exemplo 4 temos
uma mão de estrutura bicolor. Apesar das 4 cartas em oiros
a abertura correcta é 1§, uma vez que se trata do naipe mais
comprido. No exemplo 5, uma mão tricolor, com a abertura
a ser em 1¨, apesar do naipe
de paus também reunir as condições necessárias
para abrir. Mas, em caso de igual número de cartas, desde
que reunidas as condições mínimas impostas
pelo sistema, abre-se no naipe de hierarquia superior (esta regra
é também válida para os naipes ricos). Finalmente,
no exemplo 6, a mão é balançada mas aquém
da força necessária para a abertura de 1ST. Não
havendo 3 cartas de paus nem 4 cartas de oiros, estamos em presença
da excepção atrás referida: a abertura é
em 1¨.
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Uma abertura
em naipe pobre faz-se no naipe mais comprido e promete:
» 12H a 22HL
» 3 ou mais cartas no naipe de abertura. No caso da abertura
em 1¨ naipe só
terá 3 cartas no caso da distribuição 4ª-4©-3¨-2§ |
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