TÉCNICAS ELEMENTARES DE CARTEIO E FLANCO II
AVOIDANCE PLAY
Trata-se de uma técnica preventiva que, na sua faceta mais comum, pretende evitar ceder a iniciativa do jogo a um determinado adversário considerado como "a mão perigosa".
Vejamos um exemplo simples:
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
AV96 |
♠ |
R1084 |
♥ |
752 |
♥ |
D84 |
♦ |
10 |
♦ |
A965 |
♣ |
ADV102 |
♣ |
R3 |
Este está a jogar 4♠ e Sul saiu ao ♥A. O parceiro negou interesse no naipe pelo que ele mudou o flanco para oiros. O declarante ganhou a vaza e vai destrunfar. Para que lado deve fazer a passagem à ♠D? A resposta está na identificação da mão perigosa que, neste caso, é a de Norte. Se ganhar a vaza de trunfo irá seguramente atacar copas e derrotar um contrato à partida imbatível.
Um outro exemplo com as 4 mãos abertas e de identificação bem mais complicada:
♠ | 732 | Sul está a jogar 3ST e Oeste saiu ao ♠6. O declarante ganhou a vaza com o ♠V e começou por testar o naipe de oiros assistindo às más notícias. Apesar do contratempo as hipóteses continuam em aberto, com 2 passagens à disposição. O único problema é que ambas estão direccionadas para a mão perigosa (Este). Qual das passagens fazer em primeiro lugar? Acumular hipóteses está sempre na ordem do dia de qualquer bom declarante. Neste caso a boa opção é bater ♣A e ♣R acumulando a hipótese da ♣D aparecer em qualquer das mãos. Finalmente, mais ou menos em desespero de causa, faz a passagem a copas. Claro que se a ♣D estivesse na passagem em Oeste e a ♥D em Este iria ter de ouvir as evidências do parceiro. Mas o importante é que escolheu a melhor linha de jogo. |
||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
♥ | RV8 | |||||||||
♦ | 74 | |||||||||
♣ | AV652 | |||||||||
♠ | AD864 | ♠ | 105 | |||||||
♥ | D5432 | ♥ | 1097 | |||||||
♦ | 5 | ♦ | V10986 | |||||||
♣ | 87 | ♣ | D109 | |||||||
♠ | RV9 | |||||||||
♥ | A6 | |||||||||
♦ | ARD32 | |||||||||
♣ | R43 |
Existe uma outra situação (mais rara) em que a técnica é utilizada:
Quando precisa de fazer vazas em dois naipes diferentes e o timingo é importante comece por jogar o naipe em que um dos opositores é obrigado a recuar. Talvez um exemplo retrate melhor o problema
♠ | AR642 | Este passou, Sul abriu em 1♣, Norte marcou 1♠, Este dobrou, Sul marcou 1ST e Norte fechou o contrato em 3ST. Saída ao ♥2 Com 6 vazas certas, aparentemente o naipe de paus deverá ser o naipe de trabalho e esta vai ser a opção preferida por uma boa parte dos declarantes. Mas não por aqueles que já leram a importância do counting em bridge. Neste caso particular, contar vazas. Se os paus não correrem um novo ataque a copas derrota inapelavelmente o contrato, não havendo tempo de libertar os oiros antes dos adversários apurarem as copas. O Dobre de Este até deu ao declarante uma ajuda preciosa, uma vez que será difícil imaginar a sua mão sem o ♦A. Assim vá ao morto em espadas e jogue pequeno oiro em direcção à mão. Se Este entrar no ♦A conta 9 vazas: 2 espadas, 2 copas, 3 oiros e 2 paus. Se não entrar faz a vaza e agora sim já pode lançar-se no apuramento do naipe de paus: 2 espadas, 2 copas, 1 oiro e 4 paus. |
||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
♥ | 93 | |||||||||
♦ | RD8 | |||||||||
♣ | V82 | |||||||||
♠ | D1073 | ♠ | 95 | |||||||
♥ | 10762 | ♥ | DV854 | |||||||
♦ | 7 | ♦ | A10952 | |||||||
♣ | D753 | ♣ | 6 | |||||||
♠ | V8 | |||||||||
♥ | AR | |||||||||
♦ | V643 | |||||||||
♣ | AR1094 |
O HOLD UP
A técnica é aplicável quer ao declarante quer à defesa e consiste em gerir o timimg de fazer uma vaza. O objectivo é cortar as comunicantes seja entre os defensores, seja entre o declarante e o morto. Vamos ver dois exemplos, um para a defesa e outro para o declarante.
♠ | R62 | Sul joga 3ST e Oeste sai ao ♠10. Facilmente o declarante identifica o naipe de oiros como o seu naipe de trabalho. Assim ganha a vaza de saída na mão e joga oiros para o morto. Se Este entrar no ♦A para jogar espadas o declarante ganha na mão e continua nos oiros, cedendo mais uma vaza no naipe mas apurando a 5ª carta para alcançar as suas 9 vazas (com a passagem a copas bem sucedida. Veja o que acontece ao declarante se Este não fizer o ♦A. Ao cortar as comunicantes com o morto a defesa reduz o declarante a 2 vazas no naipe de oiros, insuficientes para cumprir o contrato. Poderia o declarante proteger-se contra esta manobra? Poder, podia, bastando-lhe fazer um golpe em branco em oiros. Mas isto é de outro campeonato. |
||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
♥ | 854 | |||||||||
♦ | RDV53 | |||||||||
♣ | 95 | |||||||||
♠ | 10983 | ♠ | V75 | |||||||
♥ | V96 | ♥ | R1032 | |||||||
♦ | 87 | ♦ | A1064 | |||||||
♣ | DV72 | ♣ | R8 | |||||||
♠ | AD4 | |||||||||
♥ | AD7 | |||||||||
♦ | 92 | |||||||||
♣ | A10643 |
O HOLD UP do declarante
A técnica é a mesma da defesa e o objectivo também: cortar comunicantes à defesa. Uma questão importante a ter em conta antes de aplicar a técnica às cegas: deve fazer o hold up DESDE QUE não exista um outro naipe ainda mais perigoso.
A situação clássica é qualquer coisa do género:
84 | ||
RV932 |
D75 | |
A106 |
A jogar em ST, Oeste saiu ao 3. Não havendo perigo iminente de outros naipes o declarante pode recuar o A até à terceira vaza no naipe, cortando as comunicantes no naipe à defesa.
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
84 |
♠ |
A97 |
♥ |
RD4 |
♥ |
A83 |
♦ |
R972 |
♦ |
A84 |
♣ |
R1062 |
♣ |
DV43 |
A jogar 3ST, Este recebe a saída ao ♠5. Com 6 vazas certas o naipe de trabalho para cumprir o contrato é o naipe de paus. No entanto a saída deve acender luzes de alerta no declarante. Se as espadas estiverem 4-4 no flanco não haverá perigo. a defesa apenas pode fazer 3 vazas a espadas e uma a paus. O problema é se o naipe estiver 5-3. Aí há que entrar no ♠A apenas na terceira vaza no naipe.
Será a manobra suficiente para garantir o contrato? Claro que não. Se o ♣A estiver em Oeste a chave do sucesso só pode encontrar-se na secção de milagres.
Uma situação curiosa do hold up acontece quando o declarante ao recuar fica com uma fourchette o que impede a defesa de continuar no naipe sem dar vaza:
♠ | A103 | Sul joga 3ST e Oeste sai naturalmente ao ♥R. Se o declarante recuar a vaza de saída a defesa fica impedida de continuar no naipe. Desta forma Sul vai ter um tempo para libertar as susas vazas em oiros e garantir o contrato. Se o declarante decidir entrar à primeira no ♥A irá naturalmente para o cabide, uma vez que a defesa está em condições de tirar 4 vazas a copas e uma a oiros.
|
||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
♥ | 63 | |||||||||
♦ | DV974 | |||||||||
♣ | R95 | |||||||||
♠ | V72 | ♠ | D9654 | |||||||
♥ | RD1092 | ♥ | 854 | |||||||
♦ | 82 | ♦ | A6 | |||||||
♣ | D83 | ♣ | V74 | |||||||
♠ | R8 | |||||||||
♥ | AV7 | |||||||||
♦ | R1053 | |||||||||
♣ | A1062 |
Para finalizar o tema um problema para resolver:
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
842 |
♠ |
AV6 |
♥ |
AR103 |
♥ |
9 |
♦ |
A632 |
♦ |
DV9 |
♣ |
AV |
♣ |
D109862 |
Considere-se em Este a jogar 3ST e recebe a saída ao ♦4. Qual o seu plano de jogo?
Deixamos a resposta para o final deste artigo
ELIMINAÇÃO DA ENTRADA NA MÃO PERIGOSA
Nas situações em que a defesa tem um naipe perigoso em seu poder, mas ainda não apurado e o declarante necessita de múltiplas manobras de apuramento de vazas para cumprir o contrato é fundamental começar por atacar as possíveis entradas na mão mais longa no naipe de saída.
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
D3 |
♠ |
RV5 |
♥ |
AD105 |
♥ |
V62 |
♦ |
V64 |
♦ |
AD52 |
♣ |
AR52 |
♣ |
976 |
Este joga 3ST e recebe a saída ao ♠4. Norte faz o ♠A e continua no naipe. Ganha a vaza com o ♠V e nota que Sul assistiu com ♠2. Informado que as saídas são à 4ª carta carta do naipe comprido, como deve Sul elaborar o seu plano de jogo?
Em primeiro lugar contar vazas: 2 em espadas, 1 em copas, 1 em oiros e 2 em paus. Em segundo lugar como está distribuído o naipe de espadas? Depois da saída ao ♠4 seguido do ♠2 o naipe está 5-3 com 5 cartas em Sul.
Para cumprir o contrato o declarante vai precisar de manusear os 2 naipes vermelhos, sendo o naipe de copas mais promissor que o naipe de oiros devido à presença do "10". Por onde começar?
Seguramente pelos oiros. Isto porque se os dois R vermelhos estiverem mal é fundamental rebentar com a entrada da mão perigosa. Sul faz o seu ♦R, mas se continuar com espadas esgota as comunicantes com o parceiro. Se mudar o flanco o declarante pode então trabalhar o naipe de copas enquanto ainda controla o naipe perigoso.
ALGUMAS DICAS PARA CONTRATOS TRUNFADOS
O primeiro problema que se coloca ao declarante de um contrato em trunfo é decidir sobre o timing para destrunfar. A questão tem uma resposta mais ou menos simples:
Por regra devemos tirar os trunfos aos adversários tão cedo quanto possível. Mas, como tudo o que ao bridge diz respeito, seguir cegamente as regras dá azar mais cedo ou mais tarde. Antes precisamos do plano de jogo. Quantas perdentes, quantas ganhantes, como eliminar as perdentes em excesso ou como "inventar" as ganhantes que não temos.
As técnicas aplicáveis aos contratos em trunfo não diferem muito das técnicas do ST com aquela pequena diferença que resulta dos poderes especiais do trunfo. Que, lamentavelmente para os declarantes, funcionam igualmente para a defesa.
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
R84 |
♠ |
A9752 |
♥ |
V96 |
♥ |
D103 |
♦ |
7643 |
♦ |
A |
♣ |
AD3 |
♣ |
RV82 |
O contrato é 4♠ jogado por Este e Sul saiu ao ♦R. Vamos ao plano de jogo: Perdentes = 1 ou 2 a espadas, 2 a copas. Ganhantes com as espadas 3-2 = 10 vazas: 4 espadas, 1 copa, 1 oiro, 4 paus.
Conclusão: Se as espadas não estiverem 3-2 vamos para o cabide uma vez que temos 4 perdentes e nenhuma hipótese de descobrir 10 ganhantes.
Aqui chegados, ganha-se a vaza de saída e tiram-se 2 voltas de trunfo, deixando o trunfo mestre de um dos adversários sossegado. Isto porque se tirar todos os trunfos fica com 3 perdentes, o que parece fantástico, mas já não conseguirá fazer 10 vazas. Os adversários vão forçando cortes no naipe de oiros antes que consiga apurar a vaza de copas.
Depois das 2 voltas de trunfo comece a trabalhar o naipe de copas. Mesmo que o adversário corte a terceira vaza de copas continua a ter 10 vazas porque conseguirá fazer 3 cortes a oiros.
Uma situação aparentemente idêntica ao exemplo anterior, mas com uma solução diferente.
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
7 |
♠ |
AR10963 |
♥ |
1094 |
♥ |
AV8 |
♦ |
V1053 |
♦ |
AD7 |
♣ |
A8742 |
♣ |
6 |
Este está a jogar 4♠ e recebe a saída ao ♥7. Norte joga a ♥D ganha pelo ♥A do declarante que continua com 2 trunfos mestres a que ambos os defensores assistem não tendo aparecido qualquer figura. Esta situação é diferente da anterior porque faltam 2 cartas mestres da defesa (DV de espadas) e não apenas uma.
Se as figuras estiverem mal divididas fica dependente da passagem a oiros para ganhar o contrato. Se estiverem divididas o contrato está garantido sem ter necessidade de qualquer passagem. Mas para isso não pode deixar que a defesa faça os trunfos separadamente. Assim e ao contrário da solução do exemplo anterior, agora deve jogar uma terceira volta de trunfo.
OS CORTES CRUZADOS (CROSSRUFF)
Depois de descoberto o fit as mãos são avaliadas com a inclusão dos chamados pontos de distribuição que "medem" a capacidade de realizar cortes. Existem situações em que existe capacidade de corte nas duas mãos e que o desdobramento dos trunfos são a solução do problema.
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
A962 |
♠ |
R5 |
♥ |
R743 |
♥ |
ADV2 |
♦ |
8752 |
♦ |
D94 |
♣ |
8 |
♣ |
A1062 |
Este está a jogar 4♥ e recebe a saída a trunfo. Qual o plano de jogo? Com apenas 3 vazas fora do naipe de trunfo a tarefa do declarante parece bem complicada. Para ganhar o contrato precisa de realizar 7 vazas em trunfo o que só pode acontecer se não destrunfar. Para além disso há que simular a sequência de acontecimentos antes de jogar porque mesmo identificando a técnica a utilizar pode ser traído pelo timing escolhido.
Ganha a vaza na mão e joga ♣A e pau cortado. Vem à mão no ♠R e corta outro pau. ♠A e espada cortada, último pau cortado com o ♥R e fica com 2 cartas mestres de trunfo na mão para completar as suas 10 vazas. Repare que se começar a manobra pelo naipe de espadas vai ficar a faltar-lhe uma comunicante para cortar o último pau da mão.
A gestão das comunicantes em jogos de cortes cruzados é fundamental pelo que deve sempre simular a sequência das suas jogadas. Com comunicantes suficientes entre as duas mãos é normalmente correcto começar por tirar as ganhantes em naipe lateral antes que seja vítima de um corte inesperado.
Como por certo já sabem não existem receitas universais para os problemas de bridge. Cada jogo é um problema novo.
Em próximos artigos iremos abordar situações de final de jogo através da análise de algumas técnicas mais elaboradas. Para finalizar este artigo vamos à solução do problema que lhe colocámos:
OESTE |
ESTE |
||
♠ |
842 |
♠ |
AV6 |
♥ |
AR103 |
♥ |
9 |
♦ |
A632 |
♦ |
DV9 |
♣ |
AV |
♣ |
D109862 |
3ST jogados por Este com saída ao ♦4. Para os declarantes apressados mandar jogar pequena do morto é automático. Pelo menos 10 vazas estão no papo. Altura em que Norte ganha a vaza com o ♦R e ataca espadas. Por esta altura já percebeu que o sucesso do seu contrato fica dependente da passagem ao ♣R.
Tivesse pensado antes nesta hipótese e teria entrado no ♦A para jogar ♣A e ♣V, coberto pela ♣D. Agora tem as suas 9 vazas garantidas sem ter dado qualquer oportunidade ao conhecido azar de entrar na contenda.
NOTA: A maioria dos exemplos aqui apresentados sairam do livro "Goren on Play & Defense" que aconselhamos vivamente.