LOSING TRICK COUNT - 1ª PARTE

INTRODUÇÃO

O L.T.C., abreviatura porque é conhecida o método em análise, é uma ferramenta de leilão dos anos 30. Surgiu em 1935, pelas mãos de Dudley Courtenay e G.G.J. Walshe. Mais recentemente, Ron Klinger publicou uma nova versão, adaptando-o à realidade do bridge de competição.

Em Portugal a ferramenta já tem muitos clientes, como é hábito, o conhecimento que alguns têm do método é extremamente deficiente. Sendo a sua base teórica de muito simples compreensão e sem grandes exigências de memorização é, no entanto, necessário proceder à sua aplicação com rigor.

Nesta primeira abordagem apresentamos as bases do método, suficientes para se dar início à sua aplicação prática, não deixando de chamar a atenção dos leitores para a necessidade de uma informação mais aprofundada que contamos poder fazer em artigos posteriores.

PRIMEIRAS DICAS

CASO 1

CASO 2

32

74

R2

D9

ARV73

RV74

9752

RD942

Qual das mãos justifica, em seu entender, uma abertura?

As mãos foram jogadas num Simultâneo de pares organizado pela E.B.L. Nos comentários anexos da autoria de jogadores de renome, era referido que se considerava normal abrir a mão 1 em 1 e não abrir a mão 2.

Se bem que no bridge que se joga actualmente não seja de espantar ver abrir qualquer das mãos, qual a razão para aquele conjunto de especialistas terem opiniões diferentes relativamente a mãos estruturalmente iguais - 11 pontos, 5-4-2-2 ?

Como decidir se uma mão tem abertura? Desde logo os pontos honra. Para mãos regulares 12 ou mais pontos, para mãos unicolores 11 ou mais pontos e para mãos bicolores (5-5 ou melhor) com pontos concentrados 10 ou mais pontos (REGRA DOS 20)

Outro auxiliar para tomar a decisão nas mãos de fronteira tem a ver com a capacidade de rebide da mão (que é também um dos problemas do caso 2)

Finalmente o LTC: nas mãos de 10-11 pontos o elemento de decisão pode ser a contagem de perdentes. Uma abertura não deve ter mais de 7 perdentes.

CONTANDO PERDENTES

As regras básicas do LTC são:

Em cada naipe conta-se 1 perdente por cada honra principal em falta (A, R ou D) o que significa que existe um máximo de 12 perdentes em cada jogo e, por consequência, um máximo de 24 perdentes em cada campo.

Não podem existir mais perdentes num naipe que o número de cartas nele existente.

Para se aferir o potencial do campo diminui-se a 24 o somatório das perdentes do campo. O resultado corresponde ao número de vazas que o campo pode realizar.

x-x-x; V-x-x-x; x-x-x-x-x » 3 perdentes

A-x-x; R-x-x; D-x » 2 perdentes

x; A-x; R-x; R; A-R-x-x-x » 1 perdente (deve ser considerado também como 1 perdente combinações com A-V-10).

A; A-R; A-R-D ou chicane » 0 perdentes.

Vamos ver um exemplo:

OESTE

ESTE

A32

74

RD432

A985

R3

AD874

752

D3

Oeste abriu em 1. Encontrado o fit Este vai contar as suas perdentes que, até informação posterior, soma ao mínimo de 7 perdentes que o abridor pode ter. Com 7 perdentes também na sua mão, Este sabe que vai marcar partida mesmo em frente a um parceiro mínimo e fá-lo-à de acordo com o sistema de marcação do par.

Alteremos agora a mão do abridor

OESTE

ESTE

A3

74

RDV432

A985

R3

AD874

A52

D3

Quando Este marcar a partida em copas Oeste sabe que ele tem 7 perdentes. O que juntando às suas 5 perdentes coloca o campo na órbitra do cheleme. Vamos extremar um pouco mais as mãos

OESTE

ESTE

A3

74

RDV432

A985

3

AD874

AR52

D3

O abridor continua a ter 17 pontos como no exemplo anterior, mas a alteração na distribuição retirou-lhe uma perdente. Agora é o grande cheleme que está à vista.

Nesta altura já deve ter percebido que a grande vantagem de aplicar o LTC é que o pode fazer independentemente do seu parceiro.


OESTE

ESTE

83

974

RDV432

A9865

3

V874

AV52

3

Oeste abre em 1 e Este, em função do sistema de marcação disponível, vai mostrar o fit. Com apenas 6 perdentes Oeste não deverá ter dúvidas em marcar partida com apenas 16 pontos honra em linha. De realçar que Este, por saber que existem pelo menos 10 trunfos em linha, deve contar apenas 1 perdente no naipe.

BONS E MAUS PONTOS

Não é novidade para ninguém que a contagem dos pontos deve ter em atenção o tipo de pontos. Porque o objectivo do jogo é conseguir transformar os pontos em vazas. Também na contagem de perdentes existem bons e maus pontos e outros que são uma ou outra coisa em função das circunstâncias.

Quando um determinado naipe é constituído por D43, na avaliação inicial devemos considerar os 2 pontos da D, mas precisamos de mais informação para perceber se a D é ou não um valor útil.

Ao aplicar o LTC a um jogo com esta combinação num naipe é perigoso contabilizar 2 perdentes, tantas qunato contaríamos se o naipe fosse A43. Existe uma óbvia diferença entre os dois casos que têm de ser ponderados. Em termos genéricos as combinações com 3 cartas de Dama só devem ser contadas como 2 perdentes nas seguintes situações:

Ter um Ás lateral

Estar a Dama acompanhada do Valete

Quando o naipe Dxx for o naipe anunciado pelo parceiro

OESTE

DV2

A432

D32

752

O horrível 4-3-3-3 que à luz do LTC ainda se torna mais horrível. Esta distribuição potencia ao máximo o número de perdentes de uma mão. No caso em apreço a mão tem 9 perdentes - 2 em espadas (a combinação DV retira uma perdente ao naipe), 2 em copas, 2 em oiros (porque existe um Ás lateral) e 3 em paus. Se substituirmos o A pelo R passam a ser 10 perdentes (mais 1 em oiros), a menos que o naipe de oiros tenha sido anunciado pelo parceiro.

Outros ajustes consistem em retirar uma perdente em casos especiais como seja uma mão com 3 ou mais ases ou com um bom suporte em trunfo ou ainda quando é conhecido o bom posicionamento de algumas honras dos adversários via leilão. Estes ajustes não devem ser superiores a 1 vaza.

ABERTURAS E RESPOSTAS

OESTE

2

A9432

AR102

AV7

Oeste abriu em 1 e o parceiro apoiou em 2. Qual será o rebide? O LTC ajuda a dar a resposta. O abridor conta 6 perdentes podendo deduzir uma em virtude do número de ases. Como o apoio simples de uma abertura em naipe equivale normalmente a 9 perdentes teremos: 24-(5+9) = 10 vazas. Oeste pode marcar directamente partida.

Coloquemo-nos agora do lado do respondente com as seguintes mãos tendo o parceiro aberto em 1

1

2

3
4

543

543

2

A2

R432

RV32

RD7632

RV32

32

2

432

D43

R432

R5432

D32

R542

Caso 1 » 9 perdentes, responde 2

Caso 2 » 8 perdentes, responde 3

Caso 3 » 6 perdentes (desconta 1 perdente devido ao excelente apoio), responde 4

Caso 4 » 7 perdentes (desconta 1 perdente devido ao bom apoio e Ás lateral), responde 4

As marcações apresentadas pretendem apenas definir o limite da mão do respondente perante uma abertura de zona 1 do parceiro. Os métodos para lá chegar dependem do sistema adoptado pelas parcerias.

Chamo a atenção para os casos 3 e 4. Ambos com 7 perdentes e com potencial de partida. No entanto as mãos são bem diferentes não só pela distribuição como também pelos pontos honra (quase o dobro no caso 4 relativamente ao caso 3). Obviamente que numa parceria minimamente competente o respondente não utiliza o mesmo caminho para anunciar o potencial de cada uma das mãos.

No bridge actual é normal marcar directamente 4 no caso 3, mostrando um jogo em que prevalecem os valores distribucionais e passar, por exemplo, por mudança de naipe apar em seguida marcar 4 no caso 4.

AS MÃOS BALANÇADAS

O LTC não é uma ferramenta para utilizar em mão balançadas. Mas para o respondente pode ainda assim ser bastante útil. Isto porque os limites de perdentes na abertura de 1ST (15-17) varia entre 6 e 8 perdentes. As mãos mínimas com distribuições 4-3-3-3 podem ter 8 perdentes, as mãos máximas com 4-3-3-3 ou 4-4-3-2 têm quase sempre 7 perdentes e as mãos com 6 perdentes situam-se quase sempre em mãos com naipes de 5 cartas

1

2

3
4

AD3

DV10

AV3

AV2

RD2

A92

RD2

RD2

AV4

AD765

A32

A32

10432

R5

V432

R542

No caso 1 temos 16 pontos com 7 perdentes, no caso 2 também 16 pontos com 6 perdentes, no caso 3, 15 pontos com 8 perdentes e no caso 4 existem 17 pontos, mas 7 perdentes.

É com este cenário que tem de contar o respondente. Se tiver uma mão balançada o contrato é marcado "a peso". Se tiver uma mão desbalançada e encontrar o fit entra em funções o LTC para ajudar a avaliar o potencial da mão.

O REBIDE DO ABRIDOR

Quando o parceiro responde a uma abertura dando o fit já vimos com que pode contar o abridor quer em termos de força quer em termos de perdentes e o rebide é uma das seguintes opções, usando os métodos definidos pelo sistema do par: Passe, Convite, Partida, Interesse em cheleme.

Quando o parceiro responde com mudança de naipe ao nível 1deve o abridor começar por contar com 9 perdentes. Se for mudança de naipe ao nível 2, para quem joga natural a mão pode ter 8 perdentes, para quem joga FG terá no máximo 7 perdentes.

Estas são as contas de partida para a escolha do rebide, ajustáveis após a recepção de novos dados.

1

2

RD43

RD43

ARV32

AR8543

D3

74

V4

3

No caso 1 abertura em 1 e resposta em 1. Com 16 pontos de figura incluindo 3 de utilidade duvidosa mas 6 perdentes marca 3♠. O respondente não prometeu menos do que 9 perdentes.

No caso 2, para a mesma sequência de leilão o rebide do abridor deve ser 4 ou, melhor ainda, 4, Splinter. Com efeito a mão do abridor, apenas com 12 pontos, tem 5 perdentes e, portanto, força de partida.

INVERSAS

Uma inversa mostra mãos de estrutura bicolor, com 16+ pontos, em que o 2º naipe do abridor é marcado ao nível 2 e é de ranking superior ao naipe de abertura. Não sendo mãos forcing de partida, raramente param antes. Exemplos de inversa:

1 - 1
2

1 - 1
2

Não confundir inversas com bicolores em salto que são sequências com 18+ pontos e são forcing de partida:

1 - 1
2

ou

1 - 1
3

1

2

D4

43

RD32

AR843

RD1094

R4

A2

AD65

Em qualquer dos exemplos o abridor tem 16 pontos e 5 perdentes. No caso 1, se a resposta à abertura de 1 for 1 o abridor pode rebidar 2 (inversa). No caso 2, se após abertura em 1 o parceiro responder 1 o rebide do abridor deve ser em 2. O jogo é demasiado fraco para um bicolor em salto. No entanto com:

3

R3

AR843

4

AD654

Tem o mesmo número de pontos, mas apenas 4 perdentes. Para além disso é muito diferente ter o R do que ter o R. Por último, se bem que continue com 1 perdente em oiros acrescentou uma potencial ganhante ao naipe de paus. Agora, após a resposta de 1 à abertura o rebide deve ser em 3

OS TRICOLORES

São jogos do estilo 4-4-4-1 ou 5-4-4-0 e que, jogando em naipe com fits 4-4 são sempre difíceis de manejar, já para não falar nas acrescidas dificuldades no leilão. Daí que os autores do LTC (Courtenay e Walshe) aconselhem a acrescentar 1 perdente a este tipo de mãos.

BARRAGENS

Se bem que no bridge actual as barragens tenham deixado de se encaixar na categoria de aberturas precisas, dado que hoje se privilegia o seu carácter destrutivo à construção de um contrato para a nossa linha, existem mesmo assim algumas regras. A primeira regra tem a ver com a posição no leilão e a vulnerabilidade:

1ª posição » hoje em dia as mãos com distribuição acentuada têm tendência para começarem nos 4 pontos de figura. Note-se, no entanto, que a mão tem 8 perdentes até um pouco menos graças à combinação RV10 no naipe de trunfo

1

RV10654

3

8642

54

Abrir em 2 ou 2 multicolor é, nos dias que correm, comum se não vulnerável. Substituindo uma pequena espada pela D torna a abertura "obrigatória" para as parceria mais competitivas, independentemente da vulnerabilidade e da posição no leilão.

2ª posição » é a situação mais exigente para as aberturas em barragem. Isto porque tendo já um dos adversários passado, aumenta a hipótese de estar a barrar o seu parceiro. Por isso as aberturas em barragem em 2ª posição devem estar mais próximas das condições de antigamente - 6 perdentes e valores não dispersos nos naipes curtos.

3ª posição » para melhor se entender digamos que, pelo manos em condições de vulnerabilidade favorável, a abertura "assassina". Ao contrário das posições anteriores nesta sabe-se exactamente onde está o jogo e quem estamos a barrar. Funciona mais ou menos como um "vale tudo"

4ª posição » aqui a solução é simples: não há barragens. Todas as aberturas ao nível 2 e 3 são construtivas e prometem mãos com abertura ou com características de abertura.

ABERTURAS EM 2 FORTE

Para quem joga as opções de 2 forte indeterminado e 2 forcing de partida, as aberturas em forte indeterminado são mãos na zona dos 17 a 22 H, com alguma margem de tolerância desde que cumpram o LTC - 5 perdentes ou 8 vazas de jogo. Neste pacote cabem também as mãos balançadas 22-23, mas como já vimos anteriormente na análise das mãos balançadas a balança dos pontos é mais eficaz que o LTC.

No caso das aberturas em forcing de partida são jogos com, pelo menos, uma perdente menos que no caso anterior e uma zona de pontuação que até pode começar em 17H.

ALGUMAS NOTAS ADICIONAIS

O LTC é uma ferramenta de avaliação, como o é a contagem de pontos e, tal como esta, falível. Uma distribuição anormal nos adversários, a má colocação de cartas chave ou mesmo o imponderável da carta de saída são factores que podem originar um mau resultado. É a vida de um bridgista. Se este jogo tivesse receitas infalíveis para todas as situações perderia toda a sua magia.

Exemplo:

ABERTURA

RESPOSTA 1

RESPOSTA 2

-

9763

AV85

R982

AD73

D743

AD1062

V94

V94

DV103

92

92

A abertura foi em 1 e em qualquer das situações a resposta foi em 1. Qual deve ser o rebide do abridor? Valorizada a chicane a espadas depois de descoberto o fit um declarante que esgrima sem cuidado o LTC poderá rebidar 4. São 5 perdentes em frente de um parceiro que prometeu um máximo de 9 perdentes. Quando se apresentar o morto da resposta 1, o contrato só será derrotado com tudo mal colocado no flanco. Mas se aparecer o morto exposto na resposta 2 até o parcial em copas pode estar em risco e para ganhar partida será necessária uma colocação milagrosa das cartas.

Convirá dizer que o LTC não tem qualquer responsabilidade na situação de desaire. O excesso de optimismo do declarante sim. Ter fit e uma chicane lateral é excelente, a menos que parte dos pontos do parceiro estejam perdidos na nossa chicane. Por isso e antes de se lançar em aventuras perigosas deve o declarante dar tempo para poder avaliar o que vale efectivamente a chicane.

O LTC EM INTERVENÇÃO

Quando o adversário abre o leilão é expectável que a intervenção obedece a regras de segurança. Assim:

- Um dobre de chamada é feito com um máximo de 7 perdentes e, quando mínimo, deverá cumprir os requisitos de distribuição.

- Uma marcação que force o leilão para o nível 3 (por exemplo a marcação de um bicolor) deve ter, no máximo, 5 perdentes

- Uma intervenção em naipe ao nível 1 deve ter, no máximo, 8 perdentes

- Uma intervenção em salto, se barragem, deve ter no máximo 6 perdentes.

CONCLUSÃO

Está concluída a primeira parte do LTC que deve ser entendida como uma introdução alargada ao método. Muito mais há ainda para dizer, o que tencionamos fazer num artigo posterior.

Até lá estamos à vossa disposição para qualquer esclarecimento que nos queiram solicitar.