O SQUEEZE SIMPLES - PARTE 1

INTRODUÇÃO

O Squeeze é uma técnica que permite obter uma vaza suplementar (só em casos muito especiais a técnica acrescenta mais de uma vaza ao declarante) através do isolamento do defensor de posse das cartas mestres importantes e de o obrigar a abandonar uma delas através de um processo de compressão.

O processo é feito em várias etapas, a saber:

- Identificação da "vítima" que vai ser isolada no processo de squeeze.

-Iniciar o aperto ao infortunado adversário

- Comprimir o seu jogo entre o declarante e o morto até ele ser forçado a abandonar uma das suas cartas mestres.

COMO FUNCIONA

Assim dito a coisa até parece fácil. Já voltaremos aos dois primeiros passos (os mais complicados). Vamos começar pelo fim ou seja pelo terceiro passo do processo para que se perceba como isto funciona no final. Todos os exemplos são contratos de ST e, na posição final a mão está em Sul.

No squeeze simples existem cinco diferentes posições, três das quais podemos chamar clássicas:

A9

SQUEEZE SIMPLES SOBRE A ESQUERDA

Quando o declarante joga o pequeno oiro (mestre) da mão, Oeste nada pode fazer. Se balda a copa o V fica bom, se balda a espada é o 9 do morto que fará vaza.

NOTA: A mão de Este não aparece por ser irrelevante. Lembre-se que a primeira condição do squeeze é o isolamento de um dos defensores o que significa que as cartas do outro defensor são irrelevantes para o processo.

x
R10
D
2
V
x (mestre)

A9

SQUEEZE SIMPLES SOBRE A DIREITA

Da mesma forma, quando o declarante joga o pequeno oiro mestre da mão e balda a copa do morto, Este fica sem defesa.

x
R10
D
2
V
x (mestre)

Se as cartas importantes estiverem divididas pelos 2 defensores o squeeze não pode funcionar. No nosso exemplo se colocar a D num dos defensores e o R no outro o squeeze já não pode funcionar, isto porque qualquer dos adversários possui balda útil para fazer sobre a suposta squeezante.

Para entrarmos na terminologia técnica vamos apresentar as definições que necessita saber.

AS AMEAÇAS

O defensor que guarda as cartas significativas pode fazâ-lo de duas formas: ou porque tem uma honra superior ou porque tem uma carta que impede a realização de uma vaza. No nosso exemplo as duas guardas do defensor são a D e o 10. A estas duas guardas terão de existir duas ameaças do declarante. No nosso caso o V e o 9.

Podemos então concluir que num processo de squeeze devem existir, pelo menos, duas ameaças e que as mesmas têm de estar a actuar sobre o mesmo defensor.

O PRINCÍPIO DA COMUNICAÇÃO

Condição primeira de qualquer tipo de squeeze, os jogos do declarante e do morto têm de comunicar. Implica isto que uma das ameaças tem de estar acompanhada de uma carta mestre e que a esta se oponha, na outra mão, uma pequena carta: a comunicante. No nosso exemplo a comunicante é o 2.

A SQUEEZANTE

É o nome dado à carta mestre que vai "esmagar" uma das guardas do defensor. No nosso exemplo o pequeno oiro.

O PRINCÍPIO DA LOCALIZAÇÃO

No nosso exemplo as duas ameaças estavam divididas entre declarante e morto. Será possível realizar o squeeze se as duas ameaças estiverem localizadas na mesma mão?

Efectivamente é possível, mas o squeeze agora não funciona para os dois lados da defesa mas apenas para o defensor que está antes das ameaças. Ou seja se no nosso exemplo trocarmos o V de Sul com a pequena copa de Norte o squeeze só funcionará contra a mão de Oeste como poderá facilmente comprovar com o nosso exemplo.

Então o que nos diz o Princípio da Localização é que quando as duas ameaças se encontram na mesma mão elas só conseguem agir sobre o defensor que se situa antes dela.

O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO

É a bem dizer um corolário do princípio anterior e que pode ser enunciado da seguinte forma:

A separação das ameaças entre as duas mãos (declarante e morto) assegura, geralmente, que o squeeze possa ter sucesso sobre qualquer das mãos dos adversários.

Repararam na nuance do "geralmente"? Já vamos perceber a razão.

A9

As duas ameaças estão agora no morto e a comunicante é agora uma das espadas do morto. Sobre o pequeno oiro mestre Oeste nada pode fazer. Se baldar a copa o declarante balda a espada do morto e se baldar uma espada o declarante balda a copa do morto.

Mas mantendo as cartas de NS e mudando as cartas de Oeste para Este o squeeze deixa de poder funcionar porque a balda de Este é feita a seguir ao morto.

V
R10
D
V3
-
x (mestre)

O PRINCÍPIO DA SUBTRACÇÃO

Como já afirmámos atrás muito raramente o squeeze permite ao declarante adicionar mais do que uma vaza ao seu pecúlio. Como já vimos o squeeze aconteça em fim de jogo, mas a sua preparação começa muito antes. O mecanismo a seguir é simples: o declarante conta as suas vazas prováveis, junta-lhe uma vaza (a que vai resultar do squeeze) e subtrai a 13. Alcançado o resultado da operação há que começar por perder, tão rapidamente quanto possível, as vazas que a defesa pode fazer. Com isto facilitamos o isolamento de um dos defensores, aquele que vai ser submetido à compressão final.

Exemplo: O contrato é 3ST e o declarante conta 8 vazas prováveis. A 9ª vaza poderá ser possível através de um processo de squeeze. Para tal deve começar por ceder 4 vazas, esgotando de cartas mestres a mão que vai ficar irrelevante para o processo.

A esta estratégia chama-se Redução de Conta ou Rectificação de conta.

Para que tudo isto funcione é necessário que o adversário que vai ser submetido à tortura não possua nenhuma carta neutra no momento em que começa a operação final.

DUAS VARIANTES

Até agora abordámos duas posições de squeeze em que a reparticipação dos seus elementos - squeezante e as ameaças isolada e comunicante - obedecem aos dois princípios enunciados: princípio da comunicação e da localização-separação. Vamos agora ver as variações possíveis quer na disposição quer na natureza das duas ameaças.

Então e se a ameaça comunicante estiver ao lado da squeezante e a ameaça isolada na outra mão? E como reduzir o jogador da defesa ameaçado que terá forçosamente espaço para uma carta supérflua correspondente à squeezante?

Vamos ver a posição a 3 cartas

2
Vx
A9
-
x (mestre)

Nesta posição não existe squeeze possível porque não há forma de ir buscar o V se apurado. Situação que podemos alterar se adicionarmos uma carta mais a cada uma das mãos - uma pequena espada em Sul e uma espada mestre em Norte

 

 

 

R2

Quando o declarante jogar a squeezante (pequeno oiro) Oeste está irremediavelmente squeezado. Se baldar a copa o V do morto fica bom e o declarante reclama as vazas todas. Se baldar a espada o declarante irá fazer as 3 últimas vazas no naipe.

Se mudar a mão do defensor para Este a situação é exactamente a mesma bem como o seu efeito. O que se passa nesta situação de diferente é o aparecimento de mais uma nova possibilidade de comunicação entre as duas mãos.

Vx
DV10
D
A93
-
x (mestre)

Falta analisar uma última variante do squeeze simples. O que acontece se não existir ameaça comunicante?

A
V
x
V2
-
X (mestre)

Uma vez mais o squeeze não é possível uma vez mais porque não há comunicação possível entre as duas mãos. Vamos fazer um exercício semelhante ao exemplo anterior e analisar a situação a 4 cartas do fim.

 

 

 

 

A

Uma situação muito interessante uma vez que não existe nenhuma autêntica ameaça comunicante e, mesmo assim, estamos em condições de squeezar qualquer dos defensores.

Uma ameaça isolada bloqueada não funciona, como vimos no diagrama anterior a 3 cartas, mas 2 ameaças uma em cada mão permitem que o squeeze funcione.

Sobre o oiro mestre de Sul, Oeste nada pode fazer: se baldar a espada o declarante joga espada para o A, regressa à mão no A e reclama as vazas. Se baldar a copa, o declarante desbloqueia o A e entra no A para o mesmo efeito. Esta situação funciona tanto à esquerda como à direita. Se trocarmos a mão de Oeste com a de Este funciona da mesma maneira.

    V2
x
R10
R10
V2
A
X (mestre)

Vamos agora ver tudo isto a funcionar com mãos completas.

RD103

Sul joga 3ST, a defesa tira 4 voltas de paus e Oeste continua com o V. Um declarante menos competente apostará tudo na boa colocação do R. Mas, se Oeste for um defensor minimamente competente isso é esperar por uma impossibilidade.

Então, colocando o R em Este qual a hipótese do declarante? Obviamente as copas 3-3. Alguma hipótese melhor do que uma opção a cerca de 34%?

A resposta é um squeeze contra Este desde que ao R lhe juntemos 4 cartas de copas.

Está completa a parte mais difícil do squeeze simples: identificar a posição necessária para que ele se verifique. O declarante joga as suas vazas de espadas e quando bate a última espada do morto Este está squeezado. Veja no diagrama abaixo a posição final

864
D754
74
762
1
984
V9 10753
V1093 R82
AD102 R63
AV5
ARD2
A6
V985

R    

Este vai resistir até ao fim e baldar uma copa, altura em que o declarante balda o oiro inútil da mão e apresenta as 4 copas para um total de 9 vazas.

Todos os ingredientes do squeeze simples estiveram presentes, desde a redução da conta (as 4 primeiras vazas da defesa), a squeezante (o R) e as duas ameaças (a D e o 2)

84
D7
10973
R
ARD2
6

A43

Sul joga 6ST e recebe a saída ao R.

Com 11 vazas certas a solução mais óbvia parece ser esperar pelos oiros 3-3. Mas há uma chance adicional: se os oiros estiverem mal distribuídos na mão que saiu podemos estar em presença de um squeeze contra Oeste.

Como não custa nada tentar vamos começar por cumprir um dos princípios base da técnica que é a redução da conta, deixando o defensor ganhar a primeira vaza. Ele continua obviamente no naipe, o declarante faz o A e tira 4 vazas de espadas e 2 copas chegando à posição mostrada no próximo quadro.

RV
A952
8732
95
2
10872
862 109743
V1064 83
RDV9 64
RDV6
AD5
RD7
A105

    -

Ao bater a D poderá verificar o aparecimento de uma tonalidade ligeiramente rosácea no adversário à sua esquerda. Se baldar o V o 8 do morto vai fazer a 12ª vaza. Se baldar um oiro o declarante balda o pequeno pau do morto agora inútil e reclama as 4 vazas de oiros.

A curiosidade desta mão é que manteve a hipótese do naipe de oiros 3-3. Note ainda que se começar por ganhar a vaza de saída e tirar as vazas ganhantes o contrato já não se poderá ganhar uma vez que o declarante fica ainda com a hipótese de baldar 1 pau.

-
A952
    8
-  
-
V1064
V
    -
    D
RD7
    10

    65    

Sul joga 7ST e recebe a saída ao V depois de uma intervenção do parceiro no naipe. A saída coloca as 2 outras figuras de Espadas em Este e, contando vazas, o declarante te, 1 espada, 3 copas, 5 oiros e 3 paus para um total de 12 vazas.

Neste caso não é muito conveniente proceder à Redução de Conta!

Bata as suas ganhantes e a 4 cartas do fim tem 2 copas e 2 espadas na mão e as 4 copas no morto. Por esta altura já Este se rendeu, uma vez que para segurar as 4 cartas de copas tem de abandonar a sua última espada ou para segurar a espada tem de ficar apenas com 3 copas e a pequena carta de copas do morto será a sua 13ª vaza.

    AR42    
    AV83    
    V65    
V9
3
RD8742
1053 V976
109 65
1098742 3
A103
D8
RD742
ARD

Para finalizar esta primeira abordagem, esperando que tenham ficado claros os princípios base que regulam o squeeze simples, vamos tentar enfatizar alguns detalhes. Desde logo a resposta à pergunta: Como diagnosticar a necessidade de um squeeze para cumprir o contrato?

O jogador menos experiente olha para o squeeze como a última chance, depois de terem falhado as opções mais evidentes o que normalmente acontece tarde de mais. O bom jogador olha antes para a hipótese de haver um squeeze como uma chance adicional às suas opções ganhadoras e por isso prepara-se para a eventualidade de a ela ter de recorrer no timing certo.

Depois é necessário verificar as condições para se poder chegar a uma situação de squeeze: a existência de, pelo menos 2 ameaças em 2 naipes e que nenhuma delas esteja apurada ou seja apurável. Queremos com isto dizer que ARDx em frente a Vxx não constituem qualquer ameaça podendo apenas desempenhar o papel de squeezante. Mas se a situação for Axx em frente a Rx a pequena terceira carta de uma mão pode constituir uma ameaça.

A condição acima é necessária mas ainda não suficiente. Importa que uma das ameaças seja simultaneamente comunicante para a mão em frente.

Garantidas as condições há que passar à fase da preparação do squeeze. Os passos são:

- Localizar a squeezante

- Escolha da ameaça comunicante mais favorável

- Redução da conta

- Orientação e isolamento da segunda ameaça

Nos dois primeiros tempos organizamos e nos dois seguintes executamos.

Concluímos aqui o nosso primeiro artigo sobre o squeeze simples. Muita da informação aqui veiculada está expressa numa das obras mais importantes e completas sobre squeezes - Le squeeze au bridge de Bertrand Romanet.